quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Há dias assim

Fecho os olhos na esperança de ver algo mais para além de tudo... Mas não alcanço mais do que o cinzento do céu, as árvores que abanam ao sabor do vento, o comboio a passar apressado com toda a sua carga... Palpo o vazio na esperança de encontrar algo mais do que aquilo que já sei... Mas nada mais sinto, a não ser aquilo que já os meus olhos decoraram há muito tempo... Centro toda a minha atenção, com esperança de ouvir o som de algo que não me pareça familiar... Mas apenas o som das buzinas dos carros, das sirenes das ambulâncias, dos rapazes e raparigas que lá fora riem com vontade... Deito a língua de fora, mas nem um único sabor me aflora... Nem um doce, nem um salgado... Um nada que se revela pelo nada que tenho na boca... Inspiro levemente, ainda na esperança de encontrar aquele aroma que me encherá a alma, e me fará esquecer tudo o resto... Mas o único cheiro é o do amargo de toda uma vida repleta de repetições, de coisas que algum dia já vi, já toquei, já ouvi, já provei e já cheirei... E nada mais me faz colorir todo este cinzento... E a vontade de pegar em tudo o que é meu e jogar pela janela começa a surgir... E só apetece... Só apetece abrir a janela, gritar, atirar coisas ao chão, mostrar ao mundo a nossa revolta... Mas o problema é que ele não vê, não sente, não ouve, não degusta e não cheira... E eu continuo a esventrar-me com raiva de não poder fazer nada para lhe mostrar que ele não pode fazer tudo aquilo que ele quer... Mas faz... Porque ele é o mundo... E porque ele pode... E porque nada mais tem tanto poder como ele... Nós somos um piolho na cabeça dele... E ele faz questão de nos esmagar com as unhas, e deitar-nos pelo cano abaixo... Quando lhe apetece... Só porque sim...
Amanhã é um novo dia.
Tudo vai passar.
Até amanhã.

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