terça-feira, 3 de maio de 2011

Uma mão cheia de nada...

Sabes que hoje tive um sonho muito estranho? Sonhei que não precisava de te perguntar nada, porque a resposta surgia ainda antes de falar. Sonhei que não precisava de te dizer que estava mal, porque ainda antes de começar a chorar, os teus braços já me envolviam, e o teu carinho paternal reconfortava o meu coração. Estranho, não? Outra coisa estranha de que me lembro é de uma pulseira azul que trazias sempre contigo. Gostava de brincar com ela. Enrolava-a nos meus dedos, enquanto tu te entretias a ignorar-me. Ou porque tinhas de atender o telemóvel, ou porque tinhas outra coisa qualquer para fazer. Enfim... Mas eu gostava de, simplesmente, sentir a tua presença. Saber que estavas lá, independentemente daquilo que estivesses a fazer. Mas tudo não passou de um sonho, não é verdade? Ou será que passou? Hmm...
Lembras-te daquele dia em que nos sentámos lado a lado, e nem uma palavra foi proferida? Lembras-te do porquê daquele momento? Lembras-te?
Eu? Como poderia esquecer? Tinha vontade de pegar-te nas mãos e colá-las ao meu coração, para saberes realmente o porquê de estarmos ali. O porquê de eu querer estar ali. Mas não disse nem fiz nada. Limitei-me a ficar ali a olhar para ti, como se estivesse à espera da cura de uma doença, que, na verdade, até tinha. Era doente por ti. Davas-me febre, a minha cabeça andava à roda a todo o momento (e não no bom sentido), e nem mesmo os medicamentos mais fortes conseguiam curar aquela doença, aquele parasita que não me permitia arrancá-lo do meu coração. Que raiva! Que raiva que tive de mim própria e de ti! Que raiva que senti por saber que, mesmo tendo-te à minha frente, era como se estivesses a quilómetros de distância! Que raiva senti por saber que o teu coração não me pertencia, e estavas disposto a dá-lo a outra! RAIVA! O que senti naqueles dias não se ficou pela tristeza, pela solidão. Não tiveste oportunidade de ver o monstro em que me tornei, a frieza com que tratava todos, e até a mim própria. Afastei-me o máximo que pude, porque estava a decompor-me em pequenas peças que ninguém conseguiria voltar a juntar. Perdi uma parte de mim, sim, perdi. As minhas mãos, antes fechadas, num sentimento orgulhoso de confiança, mostravam-se agora como um trono destroçado e derrotado pelo seu pior inimigo. A minha cabeça prostrou-se por terra como nunca se houvera prostrado. Perdi a dignidade, perdi a fé, perdi a vontade. Não queria lutar, pois sabia que seria uma luta perdida. Limitei-me a deixar-me abater mais e mais, enquanto te via a elevares-te à minha frente. Mas as forças faltavam, e fechei os olhos, pois tencionava entrar num sono profundo, do qual só acordaria quando tivesse força para voltar a lutar. Quando tivesse força para te enfrentar de cabeça erguida e dizer-te o que nunca tive a coragem para dizer. Esperei, desesperei, um dia parecia um século, e cada dia que passava me fazia derramar uma lágrima, e jurei que todas aquelas lágrimas me seriam pagas. Todas!
Acordei, finalmente! Não tinha sido um sonho, não. O meu estado de hipnose era de tal forma potente, que não foi fácil tornar-me aquilo que sou hoje. Se alguma vez me senti uma mulher foi quando arranjei forças para encarar um problema que não devia ter de enfrentar tão cedo. Mas enfrentei. Limitei-me a ignorar a tua felicidade para poder alcançar a minha. E consegui! E hoje, aquela raiva que senti, e que esteve tanto tempo acumulada, libertou-se. Decompôs-se em maturidade, consciência e sobretudo, orgulho de mim própria. Porque cresci. E não precisei de ti nem de ninguém para me enxugar as lágrimas, nem para me pedir um sorriso. Porque eu limpei as lágrimas sozinha, e mostrei o sorriso mais confiante que tinha, só para ti! Só para te provar que sou grande. Sou tão grande, que fui capaz de ultrapassar. Coloquei uma pedra sobre tudo. E estou aqui, hoje, como tua amiga, como tua irmã, e como prova de que, afinal, é com os grandes erros e as grandes mágoas que se aprende a gostar realmente. Descobri como gostar de ti, descobri a maneira certa, e sabes que vais estar sempre no meu coração como um marcador de página do livro da minha vida. Hoje, posso dizer com toda a perícia que tenho: Gosto muitíssimo infinitamente ao quadrado de ti. Obrigada. A palavra certa é mesmo essa: Obrigada!

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