quarta-feira, 18 de maio de 2011

"E ali, onde cessa o canto, começa o beijo..."

Estava quase escuro. Apenas se via uma pequena faixa de luz pela brecha da janela pouco aberta. Não sentia a escuridão. Estava demasiado abstraída do clima quente e seco, daquele cheiro a terra que permanecia no ar. Fechei os olhos e inspirei profundamente. Mais uma vez uma imagem daquele dia me veio à cabeça. Nunca mais conseguira esquecer. Tocaste-me, distraidamente, e ainda assim um arrepio percorreu todo o meu corpo. Olhaste para mim com esses olhos castanhos a penetrar os meus, e com um sorriso pediste desculpa. E eu desculpei.
Tenho saudades, sim. Já não me lembro da cor da tua pele. Sei que eras moreno. Não muito, ou talvez sim. Não consigo realmente lembrar-me. E o teu cabelo castanho... Não me lembro se liso ou ondulado... Talvez encaracolado, não sei. Apenas me lembro dos teus olhos e do teu sorriso. Ah, esse sorriso...
Persegues-me. O porquê, não sei. Apenas sei que é bom. Gosto que me persigas, apesar de me incomodar não saber as tuas razões, ou, quem sabe, as minhas razões. Preciso de voltar a ver-te. Preciso de voltar a descobrir-te cada feição, cada pormenor do teu corpo. Preciso que saias por um momento das minhas memórias, e te tornes parte do meu pensamento presente. Desta vez sem te pareceres uma névoa esfumada no horizonte. Desta vez, preciso que me beijes a mão e me digas "até amanhã". Não sei se suporto mais esta memória que me traz tanto o passado sem que te traga para o meu presente.
Volta para mim, voltas?
Vou acordar, mas não quero. Porque sei que vais voltar a partir. É impossível evitar. Abro os olhos, e olho para o relógio. São 9h. Estou atrasada, mas pouco me importa, pois tudo me parece ainda um pesadelo, e não a vida real. Há que encarar a realidade. Sorrio, relembro apenas mais uma vez aquele olhar... Daquele dia que nunca irei esquecer. Pego na mochila e saio de casa. Não penso mais em ti, pois sei que vais voltar. Então, até logo à noite.
Dás-me um beijo de despedida?

Sem comentários:

Enviar um comentário