segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Sozinha à chuva...

Hoje, enquanto me dirigia para casa de um grande amigo meu, estava a pensar na vida. Entretanto, começa a chover torrencialmente, o que seria uma boa desculpa para correr, para me abrigar o mais depressa possível... Mas não... Permaneci com o mesmo passo lento e cuidado de antes.  Nunca gostei de chuva, sabem? O céu fica de um cinzento tão horrorizante, e o ambiente fica tão deprimente, que eu própria me sinto deprimida nestes dias... Mas enfim... Hoje deu-me para ficar a apreciar a chuva.
Já com os pés alagados, e as meias coladas às pernas, fiquei a apreciar a beleza que a chuva, afinal, pode trazer... É como que um banho de pureza que nos limpa a alma... Primeiro pensei: "Bolas, esta chuva só se lembra de aparecer quando eu estou na rua!", mas depois, acabei por ficar um bom bocado a olhar para o céu, a ver a quantidade de cores que ele tem... É bonito, na verdade! Muito bonito... E aquela chuva torrencial, a cair sobre a minha face com toda aquela fúria, fez-me pensar que o mundo às vezes não é tão mau como parece... Nós é que o fazemos parecer mau... Tal como nós, o mundo também tem o direito de descarregar a sua fúria... Aliás, acho muito bem que o faça! E que venha mais chuva para, como hoje, eu poder apreciar um dos dias mais belos da minha vida...
Mas sabem que mais? Agora estou a apreciar a chuva da minha janela... Sinto que Deus está chateado com alguém... Esta chuva pode vir a ser perigosa, quem sabe? Olho o meu reflexo no vidro da janela... E eu... Eu sou a chuva... Como? Não me perguntem... Eu sinto a chuva pingar com toda a força no meu coração. Como se o meu corpo fosse um continente, e essa chuva o fosse inundar, causando estragos por tudo quanto passasse... E é isso mesmo! Esta chuva não passa de um pensamento meu... Da minha raiva... Da minha fúria... Da minha vontade de cair e devastar multidões... Sou má? Diria apenas que sou pecadora... Que preciso de um tratamento contra esta dor, contra esta chuva...
Ouçam... A chuva continua a cair com toda a força... Acabará o mundo? Para alguns, talvez... E eu? E a minha chuva? E a minha fúria? E a minha mágoa? Acabará? É uma questão de esperar para ver... Enquanto isso, vou continuar a olhar a chuva lá fora... Tentando alcançá-la com a língua, para sentir o sabor da fúria...
Hmm... Afinal... Sabe a água... Insabor... Será assim a minha fúria? Será que apenas causa estragos, que não passa disso, que no fundo... Não tem sabor? É uma questão estranha e intrigante... Neste momento, sinto que não consigo alcançar a chuva, tal como não me consigo alcançar a mim mesma... E esta sensação de distância... Dói-me...

1 comentário:

  1. Olá Catarina.
    Pior do que nem sempre conseguir as melhores palavras é nem sempre conseguir palavras, sejam elas melhores ou piores.
    Então, o que fazemos frequentemente nessas alturas é tornar nossas as palavras que outros já usaram. Ou então, vamos recuperar palavras nossas ditas noutros tempos mas que podem ajustar-se de certa forma à situação pretendida.
    Pois bem... É isso que vou fazer hoje.
    Deixo-te com um link de algo que publiquei em Novembro de 2007. É um texto enorme e não precisas de ler na íntegra. Salta logo para a parte onde conto a história de um pequeno vedor. Vai ajudar-te a compreender melhor as palavras que agora te deixo: "Tu tens muita água".
    Repito: "Tu tens muita água".

    Grande abraço.

    http://aviaodepapel.blogspot.com/2007/11/tu-tens-muita-gua.html

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