quinta-feira, 17 de março de 2011

Coisas pequeninas que doem tanto...

Há muito que não oiço o vento soprar... A chuva que cai no meu coração abafa os sons omnipresentes da Natureza, e tudo não passa de uma turbulência, na qual a minha alma entra em ebulição, e o meu sangue endurece como lava consolidada. A minha face perdeu a cor, os meus olhos perderam o brilho... Já nem mesmo os meus lábios se abrem naquele sorriso que outrora mostrei, e senti orgulho em mostrar. Estou vazia, seca, oca.
Olho as minhas mãos, agora envelhecidas devido a palidez da minha pele. Amarelas, enrugadas, as calosidades a sobreporem-se às palavras doces e meigas que um dia aqui escrevi. Palavras essas que me faziam lembrar vida, presença intemporal de um ser místico e irreal que penetrava o meu cérebro e me consciencializava de que sou realmente boa, de que realmente valho algo, de que sou verdadeiramente importante na vida de alguém. Mas tudo mudou. É como se a viagem da minha vida me levasse para um polo da Terra, onde o frio congelou toda a réstia de coragem e valor que eu ainda conseguia suportar. Como se uma lufada de ar me despenteasse os cabelos, e levasse consigo toda a minha compaixão, toda a minha loucura saudável que já possuí, mas que agora imploro para voltar, sem qualquer resposta positiva.
Vazio. Silêncio. Escuro. Os meus olhos mudaram de cor, como se o Sol tivesses entrado e estimulado a produção de uma qualquer hormona carnal, modificando a pigmentação da íris que já vi verde, castanha, dourada. Negro, é tudo o que vejo agora. Um véu negro que me impede de alcançar a verdade, que me impede de ver a realidade, que simplesmente não me deixa amadurecer o suficiente para perceber que há saudades. Há cada vez mais saudades... E mais, e mais... Sinto falta dos tempos em que me sentava na varanda a apreciar o fogo de artifício colorido, numa noite de Verão, sem pensar noutra coisa que não fosse a beleza daquele espectáculo luminoso. Sinto falta do tempo em que mostrava um sorriso em troca de um carinho, em que colocava a minha mão sobre o cabelo e ainda conseguia sentir aquele perfume adocicado que me amaciava o espírito. Nada... Nada mais me faz lembrar isso. Não há Primavera, Verão, Outono ou Inverno que me traga aquele perfume. Não há areia de praia nem azul de céu que me faça esquecer o dourado daqueles olhos ou o fogo de artifício desalinhado e despreocupado que me enchia olhos e ouvidos num concerto de lágrimas e sorrisos. Nada mais me traz de volta as conversas inocentes e curiosas que um dia tive... Que um dia tivemos... Nada!
Opções? Terei? Poder-se-ão chamar opções? Escolhas? Eu diria obrigações. Obrigação de obedecer a uma vida sobre a qual já não temos rédea, que nos possui e nos entrega às mãos do destino, que nos revolve num misto de preocupações próprias e alheias.
Preciso de um sorriso dado com ternura. Vem, vem e receber-te-ei de braços abertos, como o pai que acolhe o filho pródigo. Dar-te-ei tudo aquilo que outrora te dei, e verás que poderei ser feliz, se alguém tiver coragem suficiente para me dizer "eu gosto de ti!"

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