segunda-feira, 14 de setembro de 2015

"Hoje somos tu e eu, e uma chávena de café ao pôr do sol numa praia qualquer. Porque hoje eu posso. Porque hoje o céu abriu e o sol está mais lindo do que nunca. E hoje foi mais um dia em que me procuraste. E hoje eu digo-te que sim. Sempre tive vontade de dizer-te que sim. Apenas tinha medo de não ser capaz de levantar a cabeça e olhar-te nos olhos. Mas hoje quero olhar-te nos olhos. Hoje quero dizer-te que quero ser tua amiga. Quero que caminhes do meu lado. Chega disto, não achas? Hoje é o dia. Vamos tomar o nosso café e lembrar-nos com um sorriso no rosto o que deixámos para trás. Conversar sobre tudo e sobre nada. Rirmo-nos do cão que puxa o dono pela trela, do jeitoso que está a exibir-se com o seu corpo musculado mesmo à nossa frente. Da senhora que fala muito alto ao telemóvel na mesa ao lado. E sorrir quando virmos aquele casal de velhinhos de mão dada a passear com o seu casal de caniches, ou mesmo aquele casal de adolescentes na flor da paixão. Vamos apenas desfrutar. De tudo o que ainda temos para descobrir. Chega de lágrimas, chega de queixas e lamúrias. Afinal, a vida pode mesmo ser linda. E sabes? Hoje apeteceu-me mesmo chorar. Várias vezes. Umas de tristeza, outras de felicidade, outras nem sei bem porquê. Mas a realidade é que o dia já acabou, e agora vou só beber o meu copo de leite e deitar-me a dormir... E o dia não se resume a mais do que isto. Chorar sabe-se lá porquê, rir sabe-se lá quando. E no final, apenas fechar os olhos, dormir e esperar que o dia seguinte chegue. E depois o seguinte, e o seguinte, e o seguinte... E daqui a nada não há mais seguintes... E passa tudo tão rápido, não é? Então... Vamos apenas tomar o nosso café, pode ser? E ver o mar mais uma vez. E sentir-lhe o cheiro misturado com o do café. Pode haver coisa melhor?"

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Cura

Pega num bisturi e corta o que está a mais. Passa um bom desinfetante no sítio e à volta, para que não restem vestígios. Aplica agora o betadine. E não te esqueças de pôr primeiro umas compressas. Por fim, podes colocar uma boa ligadura elástica e termina com um bom adesivo. E não deixes que mais nenhum lixo entre. Cura o teu coração. Porque ninguém o vai curar por ti. Não vale a pena pegares no carro e ires ao centro de saúde, porque garanto-te que nenhum médico ou enfermeiro vai ter um diagnóstico fiável para essa doença. Essa ferida tão profunda que quase permite ao teu coração ser cuspido para fora do peito. Não há outro remédio senão seres tu a curá-la. E com o tempo vais aprender qual o melhor tratamento. Até lá limita-te ao básico. Não precisa ser perfeito. Precisa resultar por enquanto. Se precisares usa umas talas para te amparar enquanto não arranjas nada melhor. Porque vais encontrar. Vais aprender a lidar com as tuas feridas e a saber qual é o melhor anti-inflamatório, ou mesmo quando precisares, qual é o melhor analgésico. E não é nada que te mate, por enquanto. Não são essas feridas que te vão matar. Pelo contrário. Quando bem tratadas, essas feridas gerarão cicatrizes que te farão lembrar com orgulho como foste forte no passado. E como conseguiste curar-te sozinho. E não há melhor que uma cicatriz com orgulho. Um dia vais perceber...