quarta-feira, 26 de junho de 2013

Perdoa-me

Perdoa-me se não gosto de sair à noite e não me lembrar de nada no dia a seguir. Perdoa-me se não tomo porcarias que me destruam e se não fumo qualquer coisa de vez em quando... Perdoa-me se não uso roupas da moda ou estou sempre a fazer compras... Perdoa-me se não tenho coisas caras e se não dou valor à etiqueta em vez de à utilidade. Perdoa-me se não tenho gostos musicais como devia e gosto de ouvir música foleira de vez em quando... Perdoa-me se choro a ver filmes que me tocam no coração... Perdoa-me se sou inocente e não presto atenção à parte mais feia das pessoas... Perdoa-me se não quero ver que esta vida é uma merda e se continuo a sonhar com o mundo encantado da Disney... Perdoa-me se prefiro ver desenhos animados em vez de ver filmes de porrada ou de terror... Perdoa-me se eu prefiro deitar-me na relva a olhar para as estrelas à noite em vez de ir todo o dia para a praia de fio dental bronzear-me... Perdoa-me por ser gulosa e por não fazer dietas que só me deixam doente... Perdoa-me se dou demasiado valor às pessoas de quem gosto e se faço tudo por elas... Perdoa-me se um momento tem tanto significado para mim... Perdoa-me se gosto de me rir à gargalhada, de falar à labrega, de cantar no meio de um parque a meio da noite, se gosto de escorregar de cu por uma ravina abaixo a cantar que sou um Estrondo... Perdoa-me se sofro quando vejo uma criança, ou um velhinho, ou um animal passar fome, ou morrer, ou ser abandonado... Perdoa-me se me preocupo também com a minha felicidade... Perdoa-me se gosto de andar de pijama o dia todo, se não gosto de me maquilhar, se visto a primeira roupa que me aparecer no armário... Perdoa-me se prefiro ténis a saltos altos... Perdoa-me se gosto de correr pelo jardim quando o sistema de rega está ligado... Perdoa-me se não gosto de me pentear e se gosto de andar cheia de guedelhas... Perdoa-me se faço figuras ridículas e se toda a gente se ri de mim... Perdoa-me por me apetecer ir para a praia a meio da noite com um frio de rachar... Perdoa-me por não ter medo de gritar ao mundo que sou uma apaixonada pela minha família e pelos meus amigos... Perdoa-me por ficar emocionada com palavras... Perdoa-me por ser uma tona e por não dizer nada de jeito... Perdoa-me por ficar magoada quando me dizem algo que não gosto de ouvir... Perdoa-me por gostar de sentir tudo... Perdoa-me por fazer isso mesmo, sentir tudo quanto possa sentir... Perdoa-me por ser uma desorganizada em tudo... Perdoa-me por ser uma preguiçosa e por não me apetecer arrumar o meu quarto... Perdoa-me por gostar de praxe quando é suposto ser o maior inferno já inventado... Perdoa-me por querer lutar por aquilo a que tenho direito e aquilo que me faz sentido... Perdoa-me por gostar de sentir o sol a beijar-me a pele num dia de Inverno e a chuva no Verão... Perdoa-me se me apetece ser feliz... Perdoa-me por tudo isto! E perdoa-me, sobretudo, por não estar disposta a mudar por ti... Perdoa-me se gosto de ser assim... Mas a vida é assim mesmo, ridícula, não é?


quinta-feira, 20 de junho de 2013

Pessoas vêm e vão

Eles são iguais a mim. Eles choram quando eu choro, eles riem quando eu rio. Eles partilham comigo máguas e risadas. Eles deitam-se comigo na areia da praia ou no chão de terra a olhar para as estrelas, a olhar para as folhas das árvores que se abanam ao sabor do vento. Eles estão sempre lá. E eu que pensava que não era possível, em tão pouco tempo, sentir tal coisa em relação a eles. E só posso agradecer. Pela surpresa de me surpreenderem a cada dia. Pelos almoços e pelos jantares deliciosos... Simplesmente por me ouvirem. Obrigada por me ouvirem. Obrigada por me entenderem. Obrigada! Devo-vos mais que uma vida! Devo-vos o prazer de ter, finalmente, conhecido a amizade. Porque não a teria conhecido de nenhuma outra forma. De nenhuma outra maneira eu teria chorado desesperadamente à vossa frente, ao ter-vos-ia aberto o coração. Se isso aconteceu, é porque isto é verdadeiro, amigos! É tão real que me dá vontade de chorar de tanta felicidade! Vocês fazem tanta coisa valer a pena, tanta coisa parecer maravilhosa! Obrigada pelas parvoíces que partilhámos todos os dias das 8h às 8h naquele espaço que é tão nosso. E obrigada pelo após. Obrigada por me mostrarem que vão estar sempre ali, sempre a olhar para mim com aquele olhar ternurento de quem me quer dar um abraço daqueles. Obrigada pelo frio desgraçado que tive o prazer de passar convosco em algumas noites tão mágicas. Obrigada por sermos uma família. Vocês não imaginam a falta que me fazem. Pessoas vêm e vão. Amigos ficam, para sempre! E prometam-me que isto nunca vai acabar. Prometam-me! <3

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Porque o passado não volta...

Quantas foram as vezes que deste por ti a pensar no mundo que passou mesmo ao teu lado durante todo este tempo, sem mesmo dares conta? Quantas foram as vezes que o teu pensamento voou, sem querer, para os sítios mais recônditos das tuas memórias? Quantas foram as lágrimas que deixaste escapar? E os sorrisos? Lembras-te? Qual foi a primeira pessoa que te fez rir à gargalhada por alguma coisa que nem sequer te fazia sentido? Quais foram as primeiras palavras que magoaram o teu coração? Qual foi o dia em que decidiste desistir de tudo? E aquele em que te reergueste e te determinaste a lutar? Qual foi a brincadeira que mais gostaste na tua infância? Quem foi o teu primeiro amigo de verdade? Quem estava sempre lá para ti nos momentos de dor? Qual era aquele retardado que sempre te fazia sorrir no meio de uma crise de choro? Qual foi o momento em que gritaste de raiva até a tua garganta doer?
Lembras-te daquele dia em que fizeste um desenho para mim no dia do meu aniversário? E quando brincávamos na caixa de areia, ou nos baloiços? Será que te recordas quando almoçávamos na cantina da escola, quando brincávamos às famílias? Ou mesmo quando jogávamos à bola, corríamos no meio das árvores, pintávamos o livrinho para colorir, desenhávamos as primeiras letras? Lembras-te como te rias das minhas figuras ridículas? E de como eu também me ria logo a seguir? E mais tarde? Lembras-te quando nos sentávamos nas escadas do ciclo a olhar para os rapazes a jogar à bola, quando mexericávamos sobre as calças que aquela ou a outra estava a usar? Lembras-te da minha vergonha em falar contigo, ou com os outros? Lembras-te quando nós ríamos feitos parvos de coisas inventadas por nós que não tinham a mínima graça? E mais tarde, lembras-te quando passávamos naqueles míseros corredores nos dias de chuva e desejávamos que o sol desse um ar da sua graça para podermos dar cento e cinquenta voltas à escola, apenas por dar? E daquelas vezes em que os meus motivos para chorar começavam a ser menos irrelevantes? Lembras-te de estar lá, ao meu lado? Ou lembras-te quando eu chorava sozinha, apenas porque não queria que chorasses comigo? Lembras-te daquelas tantas desilusões? Daquelas asneiras que eu fazia diariamente apenas por não ter consciência de que aqueles momentos não iam durar para sempre? Lembras-te quando acabou? Lembras-te quando demos por nós a olhar para um fogo de artifício num dia em que umas quaisquer palavras, que agora me parecem tão distantes, fizeram todo o sentido? E sabes porquê? Sabes sequer quão depressa eu me vi a vestir uma roupa branca e amarela, rodeada de gente vestida de preto? E sabes quão mais depressa foi até eu mesma vestir esse preto?
Não podes imaginar, pois não? Não consegues sequer ter ideia das vezes que eu me lembro daquela caixa de areia, daqueles baloiços, daqueles frasquinhos de bolinhas de sabão, daquele campo de futebol, daquela cantina, daquelas árvores, daqueles corredores, daquela chuva... Não sabes sequer que tudo isto já passou... Não reparaste nestes meros momentos.. São só momentos... Vislumbres vagos de um qualquer passado que já não importa, porque já não pode ser mudado. Mas importa... Mal eu pudesse voltava atrás... Ou talvez não, quem sabe? Mas se faz falta? Nem imaginas o quanto...